quarta-feira, 22 de agosto de 2012

"Toda sexta-feira ela tira a calça jeans, põe uma regata preta básica e dorme de maquiagem. Fecha a cortina blackout do seu quarto e chora vez ou outra sozinha, sempre sozinha, pensando nos sonhos & planos que ficaram mal amarrados nessa vida continuamente desfeita por acasos e destinos, encontros e desencontros embaralhados em sentimentos doces & amargos. Ela rabisca versos na agenda, toma sorvete nas tardes de domingo e tira do varal seu short azul, um par de meias, algumas fotografias amareladas e outras dores desnecessárias. Guarda tudo num báu velho e fundo e olha pela varanda o mormaço do horizonte que dança no mesmo compasso cansado do seu coração. Ela não admite nada, bate a porta, chora e grita pela janela de casa todas as vontades e desvontades absurdas presas no seu seio apertado.

O tempo passa e ela continua correndo – porque desde que nasceu desaprendeu a andar com passos lentos e normais de quem espera a vida te encontrar. Gosta de carinho na cabeça e abraços apertados que confortam mais do que as frases-feitas que ela gosta de usar. Está sempre se doando, entregando seus beijos e botões de rosa a amigos-amantes que encontra nas suas noites perfeitas, logo desfeitas pela ressaca moral do sábado de manhã. (...) Pensa no amanhã, sem esperar que o outro dia nasça, sem se arrepender das feridas do ontem – ainda que possa desejar ter feito coisas diferentes. Espera então, vendo lágrimas de chuva na janela, que o mundo se desmanche daqui a pouco e a carregue para um lugar em que ela se sinta leve e possa dizer "sim". Abre os olhos, cerra os pulsos e percebe mais uma vez que não conseguiu morrer. É porque volta e meia ela esquece que tem olhos verdes e chora por miudezas que arranham seu coração. 

Talvez um dia ela fuja, com o braço apoiado na janela do seu carro e uma mão descansando no volante, olhos firmes no horizonte. Se descubra do outro lado do Atlântico, quem sabe? Não se sabe. Mas, a verdade é que agora ela só quer tomar um chá quente e adormecer sem medo de sorrir. Ela quer acordar amanhã e poder dizer que gosta de Viver. E que sim, ela pode ouvir suas baladas romântias, usar seus argumentos repetitivos, sentir medos e angústias e continuar. Porque eu sei que ela pode ser ela mesma."

Lucas Simões 

Nenhum comentário:

Postar um comentário